Temos complexo de Casa Grande. E morar em Belém á assistir a manutenção do poder dos senhores sobre os escravos. Poder mantido, inclusive, pela enorme inveja e admiração que grande parcela dos dominados tem dos dominadores.
A comilança, a lambança, a impunidade, são invejadas.
Os aniversários infantis, por mais modesta que seja a família, precisam de fausto, de excesso de comidas, que jamais são para as crianças. Maniçobas, vatapás, arroz-de-galinha, e cerveja, muita cerveja, superando os brigadeiros e o bolo, que nunca é cortado e repartido na festa. Depois, magnanimamente, manda-se um pedaço para cada vizinho.
Nosso complexo de Casa Grande perpetua o mau hábito, os vícios, as arrogâncias, as prepotências. Se pudermos “canelar” o mais frágil, nós o fazemos. Quase com orgulho cívico. Se pudermos transgredir qualquer lei, norma ou regra, nem que seja a da higiene e bons costumes – jogar o papel do picolé debaixo do banco do ônibus - nós o fazemos.
Uma elite atrasada, desumana, gananciosa e medíocre, é louvada em canto e verso. Invejada, não só pela senzala, mas, principalmente, pelos pequenos canalhas que volteiam em torno dela. Gostariam tanto de ser como eles! De praticar suas atrocidades, impunes, como anõezinhos do Olimpo!
E esse exemplo se perpetua e se dissemina entre os mais frágeis. Abandonados à própria sorte, impedidos de fortalecer suas virtudes, anseiam pelos vícios alheios.
Pequena demais nossa alma. Medíocre Casa Grande. Triste senzala.